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O perigo da omissão

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“O que tapa seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido”, Pv 21.13.

Aparentemente, o homem mais pobre que a Bíblia menciona é o leproso Lázaro, cuja condição é descrita em Lucas 16.20,­21: “Havia também certo mendigo, cha­mado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele, e desejava alimentar-­se das migalhas que caíam da mesa do rico, e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras”.

Analisemos a situação deste homem.

Em primeiro lugar, era mendigo, ou seja, dependia inteiramente, para a sua sobrevivência, da esmola de alguma alma caridosa. Em segundo lugar, era leproso. Ora, naquele tempo, ser lepro­so era a pior desgraça que alguém poderia sofrer. O leproso era banido da sua família, do convívio de seus amigos, enfim, de toda a convivência social. O leproso deveria cobrir seu bigode, ter seus cabelos desgrenhados e gritar “Imundo! Imundo!”, Lv 13.45. Hoje, os esquelé­ticos sobreviventes nos campos de refugiados ainda são alcançados por mãos caridosas ou demagógicas. Mas o leproso não tinha sequer um consolo. Era repugnado e temido por todos. Jamais veria qualquer mão estendida em sua direção.

Se isso não bastasse, em terceiro lugar, fora tomado por um estado de desnutrição tal que, prostrado à porta de um homem rico, não conseguia levantar-se. A Bíblia diz que “Jazia à porta daquele”, ou seja, estava deitado, estendido à porta do rico.

Em quarto lugar, a sua desesperança era tanta que o anelo de sua alma já não era mais tomar uma refeição. Seu sonho era simplesmente algumas migalhas. Uma migalha, e já estaria satisfeito. A Bíblia diz que o seu desejo era “alimentar-se das migalhas”. Todos nós sonhamos com alguma coisa que, no momento, é inacessível. Mas a miséria de Lázaro era tanta que o seu sonho não passava de sa­ciar um pouco de sua fome brutal com alguma migalha da mesa do rico.

Em quinto lugar, o relato bíblico da condição daquele pobre aponta para um estado de degradação tão terrível que só os cães, animais tidos como imundos pelos judeus, aceitavam com ele manter algum tipo de relacionamento. Sua miséria era enorme ao ponto de só os cachorros da rua virem procurá-Io, e para lamber-lhe suas feridas.

É comum vermos mendigos pelas ruas andando em bandos ou de dois em dois. Nos campos de refugiados, vemos solidariedade na miséria: centenas morrendo à míngua lado a lado. Mas Lázaro nem mesmo desfrutava da solidariedade entre miseráveis. Nem mesmo o ser humano mais degradado, miserável ou repugnante pôde assisti-Io naquela hora, somente os cães.

Em sexto e último lugar, Je­sus conta-nos que o estado da doença era tão avançado que Lázaro estava coberto de chagas. Isto é, não havia um lugar de seu corpo onde não houvesse uma ferida. Lázaro era um “monstro disforme”. Sua aparência era horrível e grotesca. Era difícil ver naquela criatura um ser humano. Nenhuma nesga de pele, nenhum traço agradável. Tudo era feridas purulentas, pegajosas, infeccionadas, malcheirosas. E os cães a lamber toda aquela podridão fétida. Será que poderíamos encontrar na literatura universal um quadro de pobreza mais horripilante do que este? Será que alguém desafiaria dizendo que conhece alguém mais pobre do que Lázaro?

Ao prosseguir em sua prédica, Jesus revela que o mendigo morreu e foi levado pelos anjos ao paraíso. O rico, por sua vez, também morreu, teve o seu corpo sepultado e sua alma foi conduzida ao inferno, ficando em tormentos. De lá, contempla Lázaro no paraíso e clama por misericórdia, mas era tarde demais.

Este texto bíblico nos ensina muitas lições espirituais. Quero, porém, me deter em dois aspectos que se relacionam com o texto de Provérbios 21.13.

Em primeiro plano, extraímos do texto sagrado um conceito divino de pobreza. Aprendemos com Jesus sobre critérios divinos de mensuração da pobreza humana. Após traçar, na pessoa de Lázaro, o quadro de pobreza mais vivo que alguém poderia vivenciar, Jesus pinta outro cenário mais horripilante que a lepra, a fome, a destruição, um corpo coberto de chagas e a companhia dos cães. Este quadro tenebroso pintado por Jesus foi a situação de um ser humano em tormentos, no inferno, sem esperança, preso em seus remorsos, impotente para mudar sua sorte, com uma sentença eterna lavrada por seus próprios atos no tempo em que viveu no mundo dos viventes. Surge, então, a indagação: “Qual dos dois é mais pobre? Lázaro ou o rico?” Paradoxalmente, somos obrigados a concluir que o mais pobre é o “rico”. Daí a lição a ser por nós tomada.

Os clamores

Há bilhões de pessoas mais pobres que o Lázaro da história bíblica. Manchadas pela lepra do pecado, cobertas por feridas espirituais, no mais vil estado de degradação moral e espiritual, na companhia de demônios ávidos pelo mal. E eles jazem à nossa porta. Nesse sentido, somos o rico da parábola de Jesus. Temos abundância do pão vivo que desceu dos céus. Alguns, talvez, estão enfarados de tanto comer da Palavra de Deus. Todos os dias nos banqueteamos em nossas humildes capelas ou grandes catedrais.

Mas os “Lázaros” das selvas, das montanhas, dos Andes bolivianos e peruanos, das tribos amazônicas ou africanas, da Ásia ou do Leste Europeu estão clamando por uma migalha de pão espiritual. Enquanto os nossos crentes já ouviram milhares de vezes que Cristo salva e alguns brasileiros se incomodam com o crescimento dos evangélicos, há milhares que pedem uma migalha; uma mensagem, uma pregação, um versículo, uma oração, um hino etc.

o clamor do pobre não é apenas pelo pão terreno, mas, acima de tudo, também pelo pão da vida. Muitos povos nunca tiveram a oportunidade que nós um dia tivemos, nunca ouviram as palavras que ouvimos quase todos os dias, não conhecem o Amigo que conhecemos, não sabem do Sangue que nos purifica, do céu que nos aguarda, da Glória que nos espera. O clamor do pobre não está sendo ouvido. Por quê? Porque muitos na Igreja de Cristo tem tapado seus ouvidos a tal clamor.

Quantos têm preferido abrir seus ouvidos ao canto das multidões lisonjeiras, à honra falsa dos grandes destes mundo, à doce música da fama que, tal qual o lendário canto da sereia, leva o incauto nauta a morrer afogado. Ou, ainda, o ouvido tem-se tapado ao clamor do pobre para estar atento ao tilintar das moedas, ou ao “bip” da caixa registradora, ou ao ruído da azáfama das bolsas de valores. Mas a sentença divina continua, como espada de Dâmocles, sobre a cabeça dos que estão surdos para o clamor dos povos: “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre também clamará e não será ouvido”.

Ponto de vista

Talvez, como a rica igreja de Laodicéia, alguém diga: “Não preciso clamar a ninguém, sou auto-suficiente, tenho tudo, sou rico e abastado”. Mas aí vem o segundo aspecto que queremos salientar na história narrada por Jesus Cristo. O rico e prepotente dono da casa em cuja porta jazia Lázaro, a despeito de toda a sua riqueza, um dia precisou clamar. Contudo, nas suas lamentações, não pode ser atendido. Por mais ricos e poderosos que sejamos, haverá momentos em que nossas forças não serão suficientes e teremos de clamar a Deus.

Enfim, fica uma reflexão para todos nós. A sentença de Deus, nessa hora, estará a nosso favor ou contra nós? Temos dado ouvidos ao clamor do pobre? Temos estendido nossas mãos às suas necessidades? Temos distribuído o pão celestial ou temos negado até mesmo as migalhas que caem de nossas mesas? Será que nesse momento teremos o nosso clamor ouvido? Ou ouviremos a sentença “porque tapaste o ouvido ao clamor do pobre, também clamarás e não serás ouvido”?

Não tenhamos o desprazer eterno do rico da parábola de Jesus. Ouçamos o clamor que soa dos campos que já estão brancos para a ceifa.

 

Extraído

 

Postado por: Pb. Ademilson Braga

 

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