Adultos - CPAD
O perigo da indiferença espiritual
LIÇÃO – 335 – 02 de dezembro de 2018
TEXTO ÁUREO
“Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15.14).
VERDADE PRÁTICA
As palavras dos filhos de Deus devem condizer com aquilo que eles praticam.
INTRODUÇÃO
Na lição de hoje estudaremos uma parábola conhecida como a “parábola dos dois filhos” (Mt 21.28-32). Uma das curiosidades desta parábola é que ela ocorre apenas em Mateus. Ela ensina grandes lições e retrata o perigo da indiferença espiritual e a necessidade de obedecer a vontade de Deus a fim de que possamos ser participantes do Reino. Conforme aprenderemos, quando se fala de obediência ao Senhor, não bastam apenas palavras, pois o que realmente conta é se realmente praticamos aquilo que professamos.
I. INTERPRETANDO A PARÁBOLA DOS DOIS FILHOS
O contexto da parábola. A parábola traz à cena um proprietário em busca de trabalhadores para a sua vinha que, desta vez, na narrativa, são seus próprios filhos (v.28). Essa pequena porção bíblica que cabe em poucos versículos, se não for devidamente estudada, pode passar despercebida das pessoas “escondendo” o quanto há de trabalho a ser realizado, sua duração ou sua retribuição, concentrando-se na reação contrastante dos dois filhos ao pedido do pai. O primeiro filho diz que não vai obedecer, mas, ao final, arrepende-se e o faz, ao passo que o segundo diz que vai obedecer e não o faz (vv.29,30). O filho que diz que será obediente à vontade do pai, nessa parábola, representa Israel, que não fez a vontade de Deus (Rm 10.21). Enquanto isso, o filho que diz que não vai obedecer, representa os publicanos e os pecadores, que, por se arrependerem de seus pecados, têm o direito de entrar no Reino de Deus antes dos judeus (v.31).
O assentimento puramente verbal. Em algumas versões do texto grego, a ordem do pedido do pai aos filhos aparece diferente, iniciando de forma invertida, isto é, primeiramente o que disse que aceitaria, mas não foi e, posteriormente, o que não aceitou, mas arrependeu-se e foi. Assim, no versículo 30, a resposta — “Eu vou, senhor” —, que não passa de um assentimento puramente verbal, e está aqui em contraste com a recusa indelicada do primeiro filho. Porém, como já sabemos, apesar desta concordância imediata do segundo filho em ir, na prática, transforma-se em nada, pois ele não obedece, de fato, à ordem do pai.
A negação verbal. Apesar de o primeiro filho oferecer ao pai uma resposta negativa — “Não quero” —, e de ter se recusado a obedecer à ordem num primeiro momento, o texto esclarece com uma adversativa, “mas” seguida do verbo grego metamelomai (que ocorre apenas cinco vezes em o Novo Testamento), cujo significado refere-se a “arrepender-se”, “estar arrependido mais tarde”, demonstrando que essa negação verbal não representa a verdade, pois o filho, arrependido, foi trabalhar.
Uma adesão operativa. Vimos que a mesma ordem do pai obteve respostas diferentes. De fato, os dois filhos representam, de forma emblemática, dois tipos de atitudes. O primeiro deles representa a adesão operativa precedida por uma negação que é apenas verbal. De forma inversa, o segundo tipo de resposta trata-se de um assentimento puramente verbal que não passa à ação. Por isso, logo após contar essa parábola, Jesus pergunta aos líderes judeus qual dos dois filhos atendeu à vontade do pai (v.31a). Eles respondem de forma correta, e o Mestre então lhes diz que os publicanos e as meretrizes entrariam adiante deles no Reino de Deus (v.31). O Senhor disse isso porque, da mesma forma que no caso dos filhos, ao longo do ministério de Jesus, muitos publicanos, meretrizes e pecadores de toda espécie tomaram a atitude da adesão operativa. Passaram boa parte de suas vidas negando verbalmente a fazer a vontade de Deus, mas quando tiveram a oportunidade de arrepender-se, acabaram obedecendo, de fato, ao Senhor. Mais que um assentimento verbal, mais que votos ou promessas, as Escrituras Sagradas nos exortam a aderirmos, na prática, a vontade do Pai e a sermos obedientes a Ele. Só assim seremos participantes do Reino de Deus.
II. QUANDO AS PALAVRAS NÃO SE COADUNAM COM A PRÁTICA
Palavras estéreis. A obediência ao Senhor não consiste em proferir palavras estéreis e religiosas, mas em praticar a verdade revelada na Palavra de Deus de forma concreta e precisa (Mt 7.21). Os representantes da antiga e longa tradição judaica estavam ali diante do Mestre para demonstrar de maneira bem clara o que a parábola retratava, pois não tiveram dificuldade alguma para responder a indagação de Jesus: “Qual dos dois fez a vontade do pai?” (v.31a). O Senhor coloca-os frente a frente com a verdade de modo que, ao responderem corretamente, eles pronunciaram um juízo de condenação contra si próprios, pois o tipo de resposta que eles dão a Deus os identificam com o filho que contradisse com um não de fato e um sim apenas dos lábios. Eles estão no grupo dos religiosos que nada fazem além de pronunciar palavras bonitas, porém, descompromissadas.
O arrependimento conduz à prática. Muitas pessoas dizem-se arrependidas, por isso, precisamos compreender o verdadeiro sentido da expressão “arrepender-se”. Em II Coríntios 7.9 o apóstolo Paulo diferencia categoricamente a mera tristeza, estar “contristado”, do arrependimento ativo, isto é, estar “contristado segundo Deus”. O caso de Judas, por exemplo, pelo visto não passara de mero remorso (Mt 27.3-5). Na parábola contada por Jesus, o primeiro filho se arrependeu tanto por ter se recusado obstinadamente a obedecer ao seu pai que, imediatamente, foi e obedeceu. A tristeza segundo Deus opera o arrependimento, e o arrependimento produz mudança de atitude, ou seja, conduz à prática.
Palavras e ações devem se coadunar. Os discípulos de Cristo são chamados a manifestarem um estilo de vida, na qual as palavras e as ações se coadunam, isto é, não se contradizem, pois expressam uma coisa só. No Sermão do Monte, Jesus ensina aos seus discípulos que o falar destes deve ser: “Sim, sim; não, não” (Mt 5.37b). Infelizmente, a prática de falar e não agir em conformidade é um triste reflexo do decaído e mau caráter humano. Jesus, porém, exige honestidade o tempo todo. Como discípulos dEle e cidadãos do Reino, Ele requer uma equivalência entre aquilo que dizemos e aquilo que vivemos (Sl 15.1-5). Não pode haver um padrão duplo na vida dos discípulos do Mestre, ou seja, dizer uma coisa e fazer outra e vice-versa (Tg 1.25; 2.12).
III. UM CHAMADO A FAZER A VONTADE DE DEUS
A impossibilidade da obediência à Lei. As pessoas a quem Jesus dirige essa parábola estavam de fato muito interessadas em obedecer à Lei, já que apenas ouvi-la de nada adiantava (Rm 2.13). Contudo, elas não estavam igualmente preparadas nem para receber Aquele a quem o próprio Deus enviara e muito menos para aceitar que a Lei já havia cumprido o seu papel e um novo concerto estava sendo instituído (Jo 1.11; Mt 26.28; Gl 3.23-25; Hb 8.13). Talvez as pessoas desconhecessem que não se pode praticar apenas uma parte da vontade de Deus (Tg 2.10). Assim, a obediência a uma parte da Lei, acrescida da rejeição a Cristo, terminavam descambando para o legalismo e, na parábola que estamos estudando, tais atitudes equivalem a um “sim” meramente verbal, contrariando os fatos e, por conseguinte, a vontade de Deus (Jo 5.39-47).
A fé desobediente. Certamente que entre os que ouviam a parábola, encontravam-se também muitos publicanos, meretrizes e pecadores que, ao contrário dos outros, alinhavam-se aos religiosos que não se arrependeram de seus pecados de forma legítima e autêntica. Eles estavam dispostos a receber algo de Jesus, mas não estavam interessados em obedecer a vontade de Deus. Se os religiosos são legalistas, estes segundos são os participantes do que poderíamos chamar de “graça barata”. Porém, como vimos anteriormente, o verdadeiro arrependimento conduz à mudança de atitude. Quem possui uma fé genuína, sem dúvida, desejará cumprir a vontade de Deus, ou seja, “escutará” suas palavras (Jo 8.47).
O discípulo faz a vontade de Deus. Em João 15.14, Jesus é enfático ao ensinar que nós seremos seus amigos se fizermos o que Ele manda. Fazer a vontade de Deus era o eixo sobre o qual, supostamente, girava toda a religião de Israel. A Lei, ensinada pelos líderes religiosos da nação, era a expressão clara e escrita dessa vontade. Contudo, agora chegamos a uma revelação plena e perfeita da vontade de Deus através de Jesus Cristo (Hb 1.1-4). Ele anuncia a vinda do Reino e chama à conversão (Mt 4.17). Por isso, a vontade de Deus passa, afinal, através da Pessoa de Cristo Jesus. O Pai quer que os homens recebam aquEle que Ele enviou, pois quem recebê-lo receberá o próprio Pai (Mt 10.40; Rm 10.9). Não é possível obedecer à Lei sem receber a Cristo, pois Ele é o cumprimento da Lei (Rm 10.4). Também não se trata de desejar a Cristo, mas não querer obedecer a seus ensinos, pois os que realmente desejam a Ele e querem ser seus amigos, obedecem ao que Ele manda (Jo 15.14).
CONCLUSÃO
Por intermédio da parábola que estudamos hoje precisamos compreender o perigo da indiferença espiritual. Alguns pensam que podem confessar que amam a Deus com seus lábios e, ao mesmo tempo, viverem com o coração distante dEle. Pensam poder encontrar a Deus prescindindo de Cristo. Outros há que supostamente vivem na austeridade da Lei, mas não querem receber a Jesus. A obediência deve estar ligada à vontade de Deus. Para sair da indiferença espiritual, o ser humano precisa receber aquEle que Deus enviou ao mundo. A Pessoa de Cristo separa de forma bastante clara a humanidade perdida, composta até mesmo por religiosos que dizem fazer a vontade de Deus, mas não a fazem, daqueles que serão admitidos no Reino. O caminho é arrepender-se demonstrando isso com a consequente mudança de atitude, em direção à obediência a Deus.
Postado por: Pr. Ademilson Braga