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Davi, um homem segundo o coração de Deus
INTRODUÇÃO
Israel estava vivendo uma crise na liderança política e na vida espiritual. Os filhos de Samuel, que deveriam julgar a nação com equidade, não trilharam os retos caminhos do pai (I Sm 8.1-5). Desorientado, o povo decidiu buscar um rei que os governasse (I Sm 8.5-9; 10.17-25). Elegeram a Saul. Apesar de cumprir os principais requisitos humanos, Saul foi rejeitado por Deus, em razão de sua infidelidade (I Sm 13.14). É exatamente nesse contexto que surge Davi, um homem segundo o coração de Deus (I Sm 13.14; 16.11-13).
DAVI, UM SERVO FIEL E RESPONSÁVEL
No pastoreio das ovelhas. Davi era muito jovem quando recebera de Jessé, seu pai, a incumbência de cuidar das ovelhas da família. Apesar de importante, esse trabalho aparentemente simples, era negligenciado por seus irmãos (I Sm 16.11; 17.28). Mas, por incrível que pareça, foi justamente esse serviço que deu a Davi a capacidade de tornar-se um grande líder, e mais tarde, o rei de Israel.
Davi era capaz de arriscar a própria vida por uma ovelha (I Sm 17.34,35). Sua dedicação e responsabilidade eram suficientes para que Deus o tornasse pastor das ovelhas da casa de Israel (SI 78.70-72).
A despeito de ter sido ungido rei, o homem que era segundo o coração de Deus, continuou fiel na tarefa de apascentar as ovelhas de seu pai (I Sm 16. 17-19). Essas características não são vistas em todas as pessoas que servem a Cristo.
Na corte do rei. Mesmo sa bendo que Deus o escolhera para sucessor do trono de Saul. Davi nunca se negou a dedilhar sua harpa perante o rei. Tocava-a com tanto desvelo e dedicação, que recebera do perturbado monarca, amor, amizade e benevolência (l Sm 16.21-23). Sem nunca reivindicar a posse do que era seu, o futuro líder de Israel fazia tudo o que lhe vinha às mãos, apenas confiando no Senhor (Ec 9.10).
ASPECTOS DO CARÁTER DE DAVI
No tempo determinado, o Senhor ordenou a Samuel que fosse à casa de Jessé, o belemita, ungir um novo rei (l Sm 16.1). Aparentemente, o critério seria o mesmo utilizado na escolha de Saul: o candidato teria de ser o mais belo, mais alto e mais elegante jovem da região. Tendo isso em mente, Samuel estava certo de que o escolhido do Senhor era Eliabe, o filho mais velho de Jessé (l Sm 16.6,7). Por sua vez, o próprio Jessé, não tinha dúvida de que Abinadabe seria o eleito, ou quem sabe Samá… Ambos estavam enganados! (l Sm 16.8,9). “Porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (v.7). O Altíssimo não se preocupa com a aparência externa do homem, mas observa seu caráter impoluto, irrepreensível e santo. Por isso escolhera o pequeno Davi.
É um desastre quando não se utiliza critérios bíblicos na separação de uma pessoa para o santo ministério (At 9.11-15; Ef 4.11-12). O que tinha Davi de especial para que Deus lhe dispensasse tanta estima e consideração? As características de seu caráter revelam que ele era um homem que amava a Deus acima de todas as coisas, e nEle cria de todo o coração.
Coração de servo. Davi nunca se queixou do laborioso e solitário pastoreio das ovelhas de seu pai. Ungido rei não hesitou em voltar ao seu trabalho habitual. Servia ao pai prazerosamente com o que sabia e mais gostava de fazer: estar com as ovelhas (l Sm 16.19). Davi tinha um coração de servo! Deus mesmo chamou-o de servo (SI 78.70; 89.20). É imprescindível a todo cristão avaliar o modo como serve a Cristo (Mt 7.21). Você o tem servido de todo o coração? Jesus é o maior exemplo de servo humilde e obediente (Jo 4.34; Fp 2.5-8).
Humildade. Davi era um homem humilde e reconhecedor de suas limitações (SI 131; 40.12,17). Apesar de ser um soldado inigualável, um comandante corajoso, um rei exemplar, sempre atribuiu todas as suas vitórias ao Senhor dos Exércitos (SI 34.4-7; 40.5-10; 124; 144.1,2). Quanto mais o homem se aproxima da bondade, santidade e grandeza do Altíssimo, mais consciente se torna de seus pecados, mazelas e misérias (Rm 7.24,25; 12.3).
Sinceridade. Sabendo que todas as coisas estão diante do Senhor (SI 139), Davi nunca quis ser uma pessoa diferente do que realmente era. Portava-se perante o Altíssimo com o coração sincero (SI 26.2; 38.9). Numa sociedade em que se valoriza excessivamente o exterior, Deus não leva em conta o que alguém diz sobre si mesmo, mas o que verdadeiramente é. Para o salmista, sinceridade e integridade são indispensáveis aos que desejam desfrutar de íntima comunhão com o Eterno (SI 15).
Dependência de Deus. Davi dependia do Senhor em todos os momentos e circunstâncias da vida. Seu maior desejo era conhecer os caminhos de Deus, e para isso, punha-se sob sua direção em tudo que fazia (SI 17.5; 18.21; 25.4,5; 143.8,10). Jeová era seu mais precioso tesouro (SI 16.2,5; 142.5).
Coragem. A coragem de Davi era incontestável: matou um leão e um urso (I Sm 17.34,35), apresentou-se para enfrentar o gigante Golias (l Sm 17.32), lutou bravamente contra os filisteus sob risco da própria vida. Sua evidente coragem firmava-se na autêntica fé em Deus (I Sm 17.37,45-47; 23.2-5).
Gratidão. Davi não se cansava de exaltar ao Senhor por seus maravilhosos feitos. Seus salmos estão repletos de gratidão e louvor ao Todo-Poderoso (SI 9.1,2; 86.12; 138.1,2). Eles refletem a alegria, a satisfação e o reconhecimento por todas as bênçãos recebidas (Sl 7.1,17; 8.1-9; 13.5,6; 16.7; 18.46,49,50; 144.1,2; 145.1-21).
Arrependimento. Segundo a lei mosaica, Davi cometeu dois pecados imperdoáveis: adultério e assassinato premeditado (II Sm 12.9; ver Êx 20.13,14; 21.12-15; Lv 20.10; Dt 22.23,24; SI 51.14-17). Saul também transgredira a Lei do
Senhor e, em virtude disso, perdera até o trono. Mas realmente o que o torna diferente de Davi? Provavelmente sua atitude em relação ao pecado. Ao pecar, Saul tentou justificar-se transferindo sua responsabilidade para o povo (I Sm 13.13,14; 15.1-3, 9,15-31), ao passo que Davi, arrependeu-se profundamente (II Sm 12.13a; SI 51.4). O crente em Jesus que não reconhece seus erros e rejeita a disciplina do Senhor, poderá ter o mesmo destino de Saul (Mt 18.15-17; II Ts 2.6-14). A Palavra de Deus é incisiva: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia” (Pv 28.13). Davi arrependeu-se do que fez, pediu perdão a Deus de todo o coração e foi perdoado (II Sm 12.13b; Sl 32.5; 38.18; 51.3-19). Embora remido de sua iniquidade, Davi sofreu as consequências do seu pecado (II Sm 12.10-14; Gl 6.7,8).
DAVI E SEU CONHECIMENTO DO SENHOR
O caráter de Davi foi lapidado por meio de sua comunhão com Deus e obediência irrestrita às Escrituras. Ele era um profeta usado pelo Espírito Santo e conhecia profundamente a Deus (At 1.16; 2.29-36). A revelação divina era tão profusa na vida do salmista que, às vezes, ele se prostrava reverentemente diante da grandeza do Senhor (SI 139.6,14, 17).
Veja como Davi descreveu seu conhecimento da natureza e do caráter de Deus.
Deus poderoso. Davi sabia que Deus não é apenas o Criador do Universo, mas também o que o mantém sob total harmonia, garantindo a vida e o bem-estar do homem (SI 8; 19.1-6; 24.1,2).
Deus que ouve seus filhos. A confiança de Davi originava-se da convicção de que o Senhor sempre ouve o clamor de seus filhos (SI 3.4; 4.3; 6.9; 17.6; 18.6; 21.2). Nos momentos mais difíceis de sua vida, lá estava o salmista em oração. As Escrituras nos orientam a levarmos as nossas necessidades em oração e súplicas ao Senhor, com a certeza de que Ele responde a oração do justo (Fp 4.6; Jo 15.7; Hb 11.6; Tg 5.16).
Deus que julga com justiça. A experiência de Davi o havia ensinado que somente o Senhor é capaz de julgar com justiça (SI 7.8-11; 9.7,8,16; Hb 1.8). No mundo atual, quando a justiça é questionável e, muitas vezes, falha, podemos estar seguros de que o nosso Deus está no controle da situação e, ao fim, julgará a cada um segundo os seus atos (At 17.31; I Pe 1.17).
Deus Onisciente e Onipresente. Davi se considerava seguro por saber que em todo o tempo, lugar e circunstâncias, sua vida estava sob o olhar e o absoluto controle do Senhor (SI 139). Hoje nós, cristãos, temos a promessa de que Jesus, o Emanuel, estará sempre conosco (Mt 28.20).
CONCLUSÃO
Davi, o homem segundo o coração de Deus, conhecia ao Senhor pelo fato de andar em sua presença. Ele, assim como o patriarca Jó, conhecia o Senhor por experiência própria e não porque ouviu falar dEle Jó 42.5). Isto fez a diferença na vida do salmista e, com certeza, fará também na vida daquele que anda com Deus nos dias atuais. Para ser um homem ou mulher segundo o coração do Altíssimo é necessário conhecê-Lo e viver intimamente com Ele, obedecendo-o em tudo (Cl 1.10; Rm 12.1,2).
Postado por: Pb. Ademilson Braga