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As Cidades de Refúgio
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1).
INTRODUÇÃO
As “cidades de refúgio” foram estabelecidas por Deus para abrigar as pessoas que cometessem homicídio involuntário (Nm 35.11). Às portas delas, o acusado apresentava-se perante uma corte de anciãos a fim de justificar-se, e provar que não teve a intenção de matar seu semelhante.
Essas cidades, como providência divina, ilustram perfeitamente a verdadeira segurança que só encontramos na pessoa bendita de nosso Senhor Jesus Cristo (Hb 6.18-20).
Deste estudo, extrairemos preciosos ensinos concernentes à justiça e à misericórdia divinas.
AS CIDADES DE REFÚGIO E SEUS PROPÓSITOS (Js 20.2-6)
As cidades dos levitas (Nm 35.1-5). De acordo com Números 18.20-24 os levitas não herdariam qualquer parte da Terra Prometida, pois, Deus mesmo era a sua herança (v.20). Até o sustento dos filhos de Levi provinha dos dizimos de todo o Israel (v.21), uma vez que se ocupavam apenas do sacerdócio (vv.22-24).
Os levitas receberam, por ordem divina, apenas 48 cidades dentre as tribos dos filhos de Israel (Nm 35.2-5,7). Dentre elas, seis foram separadas como “cidades de refúgio” para abrigar o homicida involuntário (Nm 35.6, 14; Dt, 4.41-43). Três ficavam ao leste do Jordão (Bezer, Ramote, Golã), e três ao oeste (Hebrom, Siquém, Quedes). Esses locais eram considerados sagrados, e administrados pelos sacerdotes. Qualquer israelita ou estrangeiro que cometesse um assassinato não proposital poderia abrigar-se ali até o seu julgamento (Nm 34.15, 22-25). Todavia, se o refugiado saísse dos “termos da cidade” poderia ser morto pelo “vingador do sangue” (vv.26,27). O acusado deveria, obrigatoriamente, permanecer na cidade até a morte do sumo sacerdote (v.28).
Aqui temos uma lição espiritual muito preciosa. Deus elegeu a Jesus Cristo como o sumo sacerdote que remove a culpa e livra o pecador de seus pecados (Hb 7.20-27).
O sistema judiciário da Lei (Js 20.2-6; Nm 35.6-34). As passagens de Êxodo 21.24, Levítico 24.20 e Deuteronômio 19.21 mostram-nos claramente como funcionava o sistema judicial daqueles tempos, isto é: “olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé”. Havia leis para diversos tipos de crimes: os de natureza religiosa (Êx 20.3-5), material (Êx 22.1-15), moral (Êx 22.16-31; Lv 18.1-29) e pessoal (Êx 21.12-36). As cidades de refúgio foram criadas com o intuito de impedir a vingança contra alguém que praticasse um homicídio culposo. Pois, o desejo de vingança da família da vítima nem sempre erajusto, razão pela qual a lei concedia ao homicida a oportunidade de se refugiar e obter um justo julgamento (Nm 35.12,24).
A profanação da Terra Prometida (Nm 35.33,34). “Não profaneis a terra em que estais … ” (v.33). A Terra Prometida era santa, e jamais poderia ser profanada visto que o próprio Deus habitava no meio dos filhos de Israel (v.34). Permitir que o assassino de uma vida inocente não pagasse por seu crime era o mesmo que corromper ou profanar a terra. Segundo Gênesis 4.10,1 1 o sangue absorvido pela terra clamava contra a vida daquele que o derramou. Esse princípio baseia-se no fato de que o sangue é vida, e, sendo vida, a terra contaminada exigia a morte do assassino: vida por vida, sangue por sangue (v.34; Lv 17.11).
Isto ilustra o sacrifício cruento de nosso Senhor Jesus Cristo. Somente a morte expiatória de Jesus é capaz de eliminar a culpa do pecado e libertar o pecador da maldição e condenação da lei (Hb 9.11-14; Ef 2.13).
O SENTIDO FIGURADO DAS CIDADES DE REFÚGIO (JS 20.7,8).
Deus muito se utilizou de linguagem figurada para ensinar ao seu povo. Nas cidades de refúgio encontramos diversas figuras que são aplicadas a Cristo e à vida cristã.
Quedes: santificação para o impuro (Js 20.7). No original, o termo “Quedes” significa “santo” ou “santuário”. O nome desta cidade ilustra perfeitamente o que Cristo é para nós: nosso santo refúgio. Jesus é santo e santificador dos que dEle se achegam (At 3.14; 4.27; 1 Co 1.30; Hb 13.12). Ele é o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29; Hb 1.3). É a sua santidade que nos assegura a salvação eterna (Hb 2.17,18; 4.14-16).
Siquém: lugar para o cansado (Js 20.7). Siquém no original significa “ombro” ou “costas”. O ombro é a parte superior do braço (Jó 31.22) que tem força para suportar peso (Js 4.5; Is 10.27). Assim como Siquém, Jesus é o refúgio para o cansado e oprimido (Mt 11.28). Ele é o bom pastor que carrega a ovelha ferida sobre os seus ombros (Lc 15.5).
Hebrom: lugar de comunhão (Js 20.7). O termo Hebrom significa “comunhão” ou “associação”. Esta cidade foi designada para ser um refúgio para o desamparado e solitário. Jesus é o refúgio seguro para o desamparado. Seu sangue nos aproximou de Deus, garantindo-nos todas as beatitudes salvíficas (Ef 2.11-19; CI 1.21-23; 1 Jo 1.3). Ele nos reconciliou com Deus (2 Co 5.18), com o Espírito Santo (2 Co 13.13), e uns com os outros (1 Jo 1.7). Já não somos mais solitários, desamparados, pois habitamos em família (Ef 2.19). Glória a Deus!
Bezer: lugar de refúgio para o fraco (Js 20.8). De acordo com o original, Bezer significa “fortaleza”. Essa cidade era uma fortaleza para o homicida involuntário. Semelhantemente, Cristo é o nosso abrigo (Sl 91.9), fortaleza (Sl 91.2) e proteção (Sl 119.14). Nele temos segurança e força para enfrentar todas as adversidades da vida (SI 9.9; Ef 6.13).
Ramote: lugar de refúgio para os humilhados (Js 20.8). Ramote no original quer dizer “exaltação”, “elevação”. Assim como Ramote, Jesus é o nosso lugar de elevação. Ele foi humilhado até a morte (Fp 2.7,8; Hb 2.7), mas, Deus o exaltou soberanamente (Fp 2.9-11; Hb 2.8,9). A Bíblia afirma que, excetuando o pecado, em tudo o Mestre amado foi semelhante aos “irmãos”, por isso “pode socorrer aos que são tentados”, e exaltá-los. Ele é o nosso sumo sacerdote fiel e misericordioso (Hb 2.17,18). Nele encontramos paz, esperança e segurança. Portanto, não temas! O Senhor exalta os abatidos (ls 57.15; 66.2; Mt 23.12; Lc 14.11; 18.14).
Golã: lugar de refúgio para os tristes (Js 20.8). A pessoa que fugia para uma cidade de refúgio estava aflita e triste. O termo “tristeza” tanto no Antigo quanto em o Novo Testamento tem o sentido de “labor”, “dor”, ou “lamento por algo negativo” (Gn 3.16; Sl 127.2; Mt 14.9). Cristo é o nosso refúgio contra a tristeza (Rm 14.17; GI 5.22).
CONCLUSÃO
A principal lição que aprendemos neste estudo é que o Senhor Jesus Cristo é o perfeito refúgio para o necessitado, oprimido e triste. Jesus “foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1 Co 1.30). Ele é o nosso escudo. Nele temos paz, descanso, segurança, alegria e vitória nas lutas de cada dia.
Postado por: Pb. Ademilson Braga