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A ovelha perdida na igreja

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“Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até que venha achá-la?” (Lc 15.5b)

 A parábola

É evidente na história da ovelha perdida (Lc 15.4-6), a inquietação do pastor por uma ovelha desgarrada e rebelde. Essa ovelha, na interpretação tradicional representa alguém que saiu da igreja e foi para o “mundo”. Ou seja, alguém que se desviou dos caminhos do Senhor.

A decisão da ovelha foi pessoal e solitária, pois, pela análise do texto entendemos que ela saiu sem sofrer nenhuma influência das demais. Nem levou ninguém consigo no seu novo caminho.

Será que o termo “perdida” tem apenas o sentido geográfico? Ovelha desviada se aplica somente no sentido de abandono físico? Será que o “mundo” está apenas do outro lado das paredes do templo?

Com certeza, assumir a condição de ovelha perdida é muito difícil. Principalmente pelo fato de ela representar rebeldia, desobediência, ou, condição de um ímpio que não conhece Deus.

É fácil concluir que a ovelha errou. Qualquer que fosse o motivo – interessante, atraente, desejável, brilhante, excitante, provocante, insinuante, irresistível, lucrativo – sua decisão foi considerada grave. O motivo que a atraiu para fora do aprisco não está especificamente registrado. Mas subentende-se que houve uma razão muito forte para que ela saísse do seu lugar. Algo que a seduziu, envolveu e a fez sair de onde estavam as outras noventa e nove.

Enquanto isso no redil…

Ovelha A:

– O que você achou da amiga que se desgarrou?

Ovelha B:

– É…deixou a gente.

Ovelha A

– E se ela estiver numa situação difícil? Ou correndo perigo?…

Ovelha C:

– E daí? Isso é problema dela! Porque ela não permaneceu bem comportadinha aqui como todas nós estamos?

As demais que ouviam a conversa que acontecia num canto qualquer do aprisco gostaram:

– É isso mesmo! Deixem ela para lá! Vamos continuar comendo!

– É menos uma boca para comer! Alguém arrematou no meio da multidão.

Volta ao silêncio no aprisco. Todas as noventa e nove continuaram comendo indiferentes a qualquer problema no rebanho. E o olhar protetor do pastor ainda não havia percebido a ausência da desgarrada.

A tarde caía e as noventa e nove ovelhas já se acomodavam para mais uma noite de sono. De repente, o pastor se levanta.

– Algo está errado – Pensa. E olha atentamente, com mais precisão, para ver o que está acontecendo.

– É melhor contar as minhas ovelhas antes de dormir …96, 97, 98, 99 … Uééé! Onde está a Renata (ou Márcio, ou Alfredo, ou Jane)?

– Onde está aquela ovelha fraquinha que sempre ameaçava sair daqui? Onde está a que me dava mais trabalho? Ah!! Parece que ela se desgarrou!… Então o pastor não se conteve:

– Vou agora mesmo atrás dela.

Local da ovelha é o redil, ou seja, a igreja. Porém, perguntamos: Proximidade física diz tudo? Talvez, alguém ao seu lado, frequentando regularmente a igreja, esteja perdido. Você pode considerar essa expressão forte demais para quem está comportado na igreja. Mas provavelmente muito mais fortes são as situações difíceis por que passa o irmão ao seu lado.

Vamos considerar a aplicação do termo “perdido” nas diversas dificuldades do dia-a-dia.

Um jovem crente pode estar perdido nas suas dificuldades de relacionamento familiar. Pais que estão em constantes brigas. Jovens que chegam à igreja tristes e abatidos, porque viram cenas de conflitos e brigas em sua casa. Provavelmente algum jovem da sua igreja está na Escola Dominical desolado porque seu pai chegou na madrugada desse domingo com o hálito cheirando a álcool. Possivelmente o jovem que canta na igreja já ouviu diversas vezes sua mãe gritar em casa: “Eu não te aquento mais! Eu não te suporto! Eu vou sair dessa casa!” é possível que seu melhor amigo da igreja já tenha ouvido diversas vezes, ao dormir, discussões intermináveis na cozinha, no quarto, na sala… E também é possível alguém estar sofrendo muito com irmão drogado ou envolvido perigosamente com más companhias. Essas são situações difíceis de resolver. Com certeza, isso deixa qualquer um perdido, desorientado e aflito.

Alguém na igreja pode estar com pensamentos de desistir de frequentar a igreja e abandonar tudo – seu lugar na Escola Dominical, cargo no departamento de jovens, seu lugar no grupo musical. Alguém pode estar perdido nos seus conflitos de relacionamento. Uma mágoa, um ressentimento, uma agressão sofrida podem ter sido a causa.

A perda de um parente ou alguém muito próximo é uma experiência difícil de carregar. É extremamente difícil curar as marcas da dor da separação. O sofrimento é constante. As lembranças dos que se foram são permanentes. Isso tira o equilíbrio emocional, a motivação e o entusiasmo. Pode gerar a depressão e sentimentos agudos de solidão. Pode levar uma pessoa a uma frequência irregular nas reuniões da igreja.

É possível que haja alguém com pecados praticados e ainda não solucionados. Erros passados impedem o fervor e o louvor num culto. Esse alguém pode estar ao seu lado, envolvido numa situação assim e constrangido em revelar-se a um irmão ou irmã com receio de algum tipo de rejeição.

Essas e outras situações afastam muitas ovelhas do centro e do equilíbrio da Palavra de Deus. Fazem muitas ovelhas tornarem-se “perdidas” sem se afastarem geograficamente do templo. Embora fisicamente em contato, ficam distantes da unidade espiritual do “corpo de Cristo”. Tornam-se apáticas, inexpressivas espiritualmente. Afastam-se do fervor e da motivação no desempenho das diversas atividades na igreja.

Ainda imaginando os detalhes da parábola, as noventa e nove olharam-se surpresas ao verem a inquietação do pastor. Afinal, ela deu tanto trabalho! E o pastor ainda reage com preocupação e cuidado. Mas não demonstraram nenhuma reação. Ficaram apenas surpresas porque ele estava deixando para trás, dentro das quatro linhas do aprisco noventa e nove ovelhas obedientes, gordinhas, sadias e que não davam nenhum trabalho. O pastor estava deixando o conforto e a segurança do aprisco para enfrentar todos os perigos da noite. Decididamente saiu do seu lugar honroso de senhor daquele espaço para enfrentar as feras, abismos e a própria morte para correr atrás de apenas uma. Foi atrás da única errada, da irresponsável e da mais complicada. E para isso não mediu esforços. Enquanto não a encontrou, não parou de procurar. Ovelha que se perde, mesmo estando longe, continua sendo ovelha.

Jesus e exemplo de inquietação por alguém que está perdido. Ele se inquietou com a minha e com a sua situação. Ele se inquietou com a situação totalmente perdida do homem na Terra e desceu das alturas celestiais, da sua eterna glória para derrotar o Diabo, bem como os hipócritas que haviam invadido o Templo, os interesses pessoais dos reis e governantes do mundo de então e da multidão estupidamente cega diante do Filho de Deus. Mas Jesus não teve medo. Enfrentou a pior morte, a morte de cruz (Lc 23.46). Morreu por mim e por você. Tudo porque Ele não se conformou que algum estivesse sofrendo sob a força do seu próprio erro. Os nossos erros, a nossa natureza pecaminosa e falhas não foram suficientemente convincentes para deixar o “pastor celestial” insensível e omisso diante dessa situação.

Há alegria nos céus quando o pecador entra pela primeira vez numa igreja, se arrepende e, aceita Jesus (Lc 15.7). Na igreja deve existir alegria, também, quando alguém consegue encontrar soluções para os seus dilemas. Por isso, a reação dos anjos do céu não combina com a indiferença sofrida por alguém na igreja.

Você já se preocupou com alguém essa semana? Você é capaz de se inquietar com uma pessoa que vive numa situação assim? Uma inquietação que provoque decididamente uma reação de deslocamento, que envolva busca. Você é capaz de socorrer e não deixar que alguma crise particular de alguém traga algum desfalque no rebanho de Deus?

A essência dessa parábola é o amor. Embora o cuidado pastoral seja evidente no rebanho, a prática do amor é uma sublime responsabilidade de todos.

Todos devem cooperar nessa busca, ensina a Bíblia. Cada um ajudando o outro. Assim, crescemos e somos edificados em amor.

Amar não é obrigação. Em sua forma dinâmica, é a responsabilidade prática de um irmão para com o outro. Se você pode amar, então ame. E a Bíblia vai mais longe: Ame sem fingimento (Rm 12.9). Se você pode estender a mão e emprestar o seu ombro à pessoa que se esbarra em você todos os dias com um grito mudo de socorro, faça isso. Amar é o maior sentido da existência da igreja (1 Jo 4.8). Ou seja, sem amor não há sentido para a existência da igreja. A igreja que não ama sofre, não edifica a si mesma e não passa de uma reunião de pessoas apenas esperando o céu e buscando a espiritualidade em meio à indiferença.

Não esqueça: a responsabilidade de amar é de todos.

 

Postado por: Pb. Ademilson Braga

 

 

 

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