Adultos - CPAD
Ética cristã e política
LIÇÃO – 311 – 17 de junho de 2018
TEXTO ÁUREO
“Portanto, dai a cada um o que deveis: quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; o quem honra, honra” (Rm 13.7).
VERDADE PRÁTICA
A política faz parte da vida em sociedade. Como o cristão não vive isolado, ele deve ter consciência política, sendo sal e luz neste mundo.
INTRODUÇÃO
As Escrituras registram a liderança política de grandes personagens bíblicos, entre eles, José, o governador do Egito (At 7.9,10); e Ester, a rainha da Pérsia e da Média (Et 5.2). Contudo, apesar desses exemplos, por muitas décadas a política foi satanizada no meio evangélico. Como resultado, e com sua omissão, a igreja permitiu que o Poder Público fosse exercido muitas vezes por ateus, ímpios e imorais. Esse comportamento contribuiu com a eleição, por exemplo, de governos contrários à cultura judaico-cristã. Para mudar esse quadro faz-se necessário que a igreja amadureça e aprofunde sua “consciência política”.
I. UMA PERSPECTIVA BÍBLICA DA POLÍTICA
Deus governa todos os aspectos da vida humana, inclusive o político. As Escrituras mostram que Deus se relaciona diretamente conosco em todos os aspectos da vida (Mt 6.33). Isso significa que Ele intervém em nossa jornada diária, pois o Pai Celeste “trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Nesse aspecto, a Bíblia mostra que o Altíssimo “remove os reis e estabelece os reis” (Dn 2.21), “porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13.1). Sim, o Deus Altíssimo governa o aspecto político da vida no mundo.
Deus levanta homens que o glorifiquem na política. Os exemplos da Bíblia são abundantes. Mas destacamos três deles: José, filho de Jacó (Gn 41.37-57); Ester, a rainha (Et 2.12-20); Daniel, o jovem (Dn 2.46-49). Essas três pessoas se colocaram à disposição do Senhor, e por intermédio dEle, providenciaram o escape para o povo de Deus (Gn 42.46-49; Et 7.1-10; Dn 2.1-45). A história da Igreja também mostra um homem chamado William Wilberforce (1759 — 1833), que por influência do Evangelho, e impactado pelo ministério de John Wesley, foi quem liderou o fim do tráfico de escravos no reino britânico. Sim, Deus usa pessoas para glorificar o seu nome na política.
O Estado e a Política. O Estado tem como função garantir, por meio de políticas públicas, as condições necessárias para a vida digna da sociedade. A Palavra de Deus diz que as autoridades instituídas são para disciplinar as obras más e enaltecer quem faz o bem (Rm 13.3,4). Assim, como vivemos num estado democrático de direito, onde tanto cidadãos quanto autoridades instituídas têm direitos e deveres mediante a carta constitucional do país, isto é, vivemos no império das leis, e por isso, devemos exercer o mesmo princípio de submissão ao Estado esposado pelo apóstolo Paulo em Romanos 13.1,2.
O Estado e a Bíblia. O Novo Testamento retrata o Estado como instrumento ordenado por Deus (Rm 13.1), assim, os que resistem ao Estado afrontam a Deus (Rm 13.2). Nesse contexto, o Estado é servo do Altíssimo para aplicar a justiça (Rm 13.4), logo, ele não é problema para os que fazem o bem, mas para os que praticam o mal (Rm 13.4; IPe 2.14). Assim, é lícito pagar tributos e impostos ao Estado (Rm 13.6,7), bem como temos a recomendação de orar pelas autoridades públicas (ITm 2.1,2).
II. A SEPARAÇÃO DO ESTADO DA IGREJA: UMA HERANÇA PROTESTANTE
O conceito de Estado Laico é compreendido como a separação entre o Estado e a Igreja. Significa que um não pode interferir nas atividades do outro e vice-versa.
A união entre a Igreja e o Estado. No ano 313, Constantino e Licínio, Imperadores romanos do Ocidente e do Oriente respectivamente, promulgaram o Édito de Milão. O decreto outorgou liberdade e tolerância religiosa aos cristãos no Império Romano. O imperador Teodósio decretou tm 380 d.C. o Édito de Tessalônica, estabelecendo o Cristianismo como religião oficial do Império. O Édito prometia vingança divina e castigo do estado aos que não aderissem à lei. A partir de então a união entre a Igreja e o Estado passou a ser indiscutível. À exemplo da deformação da nação de Israel, o início dessa união trouxe até benefícios, mas em seguida, essa mistura foi trágica (ISm 10.1; cf. 8.10-19).
A separação entre a Igreja e o Estado. Ao fim da Idade Média, os ideais humanistas valorizavam os direitos individuais do cidadão e isso despertou nos cristãos a necessidade de reformar a Igreja, especialmente, o Clero (sacerdotes). Os abusos de Roma e a venda das indulgências deflagraram a Reforma em 1517, na Alemanha. O Monge Martinho Lutero rompeu com o catolicismo romano. Foi a partir da Reforma que, paulatinamente, os conceitos de liberdade, de tolerância religiosa, de democracia e de separação entre Igreja e Estado foram alçados ao status de direitos fundamentais. A Palavra de Deus mostra que a ideia de Estado e Igreja não dará bons resultados (At 4.1-7). Por isso, o Estado não deve interferir na Igreja nem a Igreja no Estado. Todavia, o povo de Deus jamais deve faltar com a sua voz profética diante das injustiças e pecados sociais.
O Modelo de Estado Laico Brasileiro. A Constituição do Brasil outorga ao cidadão plena liberdade de crença e garante o livre exercício dos cultos e liturgias, além da proteção aos locais de adoração (Art. 5°). No artigo 19 está definida a separação entre o Estado e a igreja, mas ressalva na forma da lei, a colaboração de interesse público. Assim, embora o Estado brasileiro seja laico, ele não é ateu. Desde os primórdios, o ser humano tem a necessidade de cultuar a Deus (Sl 42.1), portanto, o Estado não pode negar a natureza religiosa do indivíduo.
III. COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA
O cristão precisa tomar cuidado com a “politicagem” e definir com temor a Deus a sua atuação política.
O perigo da politicagem. Os dicionários em geral conceituam politicagem como “política reles e mesquinha de interesses pessoais”. O perigo dos atos politiqueiros envolvendo os cristãos é colocar em descrédito o Evangelho e a Igreja. Assim, os políticos contrários às convicções cristãs não podem receber o apoio nem o voto da igreja. No cristianismo primitivo, a igreja em Corinto foi advertida a observar o seguinte princípio: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” (IICo 6.14,15).
Como delimitar a atuação da igreja. Os princípios éticos devem ser estritamente observados. O púlpito da igreja não pode dar lugar ao “palanque eleitoreiro”. É verdade que a igreja precisa de conscientização política, mas isso não significa ocupar o espaço de adoração e pregação da Palavra com campanhas políticas. Conscientização política é uma coisa, campanha política é outra. Esta não cabe no espaço de culto do Corpo de Cristo. Nesse sentido, a conscientização política da igreja deve ser fundamentada em princípios cristãos. Isso significa que o cristão deve analisar as propostas e as ideologias dos partidos políticos sob a ética cristã (Is 5.20).
Ajustando o foco da igreja. O povo de Deus não pode limitar-se a fazer oposição e oferecer resistência à iniquidade no poder temporal. Não pode depositar sua confiança e esperança nas decisões políticas. As lideranças devem incentivar o avivamento espiritual. O avivamento liderado por John Wesley (1703 — 1791) trouxe mudanças sociais significativas na Inglaterra, pois o mal realmente a ser combatido pela igreja é o pecado. Não podemos jamais perder a nossa consciência e natureza espiritual. Quando a mensagem de arrependimento for pregada ao mundo, então, vidas serão transformadas. O Espírito Santo terá liberdade para convencer os ouvintes do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). A medida que verdadeiras conversões a Cristo ocorrem, na mesma proporção, a nossa nação sofre transformações espirituais e sociais.
CONCLUSÃO
Diante do cerceamento de algumas liberdades, a igreja começou a despertar para a realidade política. As mudanças e as transformações sociais passam pelo processo político. Por que então não eleger candidatos verdadeiramente vocacionados para a vida pública e que reproduzam a moral cristã? Por que não apoiar políticos que rejeitam as leis contrárias aos princípios cristãos? Para tanto, a Igreja precisa ocupar o seu espaço e influenciar positivamente a sociedade (Mt 5.13-16).
Postado por: Pr. Ademilson Braga