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Culto aos anjos: apostasia no tempo do fim

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Os anjos são mencionados na Bíblia como seres reais, não imaginários e nem mitológicos, desde o Jardim do Éden (Gn 3.24), passando pelos carvalhais de Manre (Gn 18.1) até a Ilha de Pátmos (Ap 22.8). É certo que inúmeros povos, mesmo pagãos, têm suas crenças acerca de anjos ou seres espirituais. Entre esses povos, não se distingue muito bem o que sejam anjos e demônios e ambos chegam a ser adorados e cultuados. Quanto a isso, Jesus deixou bastante claro ao príncipe das trevas: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele darás culto”, Mt 4.10 e Lc 4.8.

O que aprendemos pela Escritura Sagrada é que os anjos têm funções que variam desde o serviço imediato diante do Trono de Deus até os mais diferentes serviços na esfera terrestre, envolvendo, inclusive, nações, comunidades ou mesmo indivíduos. Os anjos aparecem na transmissão da mensagem divina na Antiga Aliança (Dt 33.2-3). Eles aparecem ainda em inúmeros textos sagrados do Antigo Testamento, exercendo funções em favor do povo escolhido de Deus. São atuações marcantes que mostram como são poderosos. A Escritura, porém, não admite que sejam todo-poderosos. Isso é atribuído somente a Deus, o Criador dos anjos e dos homens.

Pelo relato sagrado, entendemos que os anjos são seres espirituais criados por Deus e que, apesar da rebelião liderada pelo querubim ungido, mantiveram-se fiéis a Deus no seu pacto e aliança. Somente um terço das hostes angelicais deixaram-se seduzir pelo inimigo de Deus. Em virtude dessa rebelião, os anjos caídos procuram seduzir pessoas incautas para que sejam adorados e cultuados. Os verdadeiros anjos de Deus recusam qualquer tipo de adoração (Ap 22.8-9).

Alguns textos paulinos mostram que a obra de Redenção não excluiu totalmente os anjos, embora a mensagem do Evangelho tenha sido confiada aos homens, que evangelizarão os seus semelhantes. Apesar disso, os anjos se fizeram presentes à anunciação do Senhor, no seu nascimento, durante a tentação no deserto e no ministério terreno de Jesus Cristo entre os homens. Um dos textos mais belos é o que se refere à oração sacerdotal de Cristo no Jardim do Getsêmane. Naquele momento de tanta agonia, diz Lucas: “Apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava”, Lc 22.43. Os anjos aparecem durante a ressurreição do Senhor e comunicam a boa nova de que Ele havia ressuscitado. Mais tarde, quando da ascensão do Senhor aos Céus, eles aparecem para confortar os discípulos.

Durante o período apostólico, os anjos em algumas ocasiões se fizeram presentes para cooperar na obra de expansão da igreja, provendo livramento para os apóstolos e seguidores do Senhor, como no caso em que Pedro era guardado na prisão e a igreja fazia constante oração. Entretanto, em nenhum lugar das Escrituras os anjos são adorados ou cultuados pela Igreja Primitiva, nem por nenhum dos verdadeiros seguidores de Jesus.

Paulo chega a escrever aos colossenses: “Ninguém vos domine a seu bel-prazer, com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, do qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus”, CI 2.18-19. Parece que, já naqueles dias, havia um grupo de separatistas, influenciado pelo gnosticismo vigente, praticando esse tipo de coisa e perturbando a fé dos cristãos, que de forma bastante ingênua deixavam-se levar por esse tipo de misticismo pagão.

Sabe-se que em virtude do respeito que o judaísmo tinha pelos anjos, por serem descritos como poderosos, havia uma espécie de crença mística que influenciava de certa forma, pois “ver um anjo” poderia ser considerado como experiência tão grande quanto ver o próprio Deus. Talvez por isso, a teologia judaica posterior ao cânon sagrado passou a encarar os anjos como mediadores entre Deus e os homens, e a posição tão elevada destes naturalmente fez com que alguns até os adorassem.

Foi em virtude destas práticas que a adoração aos anjos penetrou sorrateiramente na cristandade através de seitas gnósticas, como já falamos, que incorporaram esta prática nos seus ensinamentos. Todavia, a prática não era aceitável pelos verdadeiros cristãos (Ap 19.10).

De acordo com a Enciclopédia de Bíblia e Teologia, Justino Mártir informa que, no século 2dC, havia cristãos que veneravam a hoste dos anjos bons. Mas, foi logo após o século 4dC que o culto aos anjos tornou-se generalizado, sendo honrado especialmente o arcanjo Miguel. Os anjos figuravam com tanto destaque na arte e no culto dos cristãos medievais a ponto de serem pintados nas grandes catedrais romanas com muita frequência e detalhes. Nesses cenários, encontramos figuras de anjos adultos, adolescentes e crianças – masculinizados e feminilizados, como se passassem pelo mesmo processo biológico a que somos submetidos. Contudo, o Senhor Jesus,
ensinando acerca dos ressuscitados, enquadrou-os na mesma condição dos anjos, que “nem casam, nem são dados em casamento” (Mt 22.30).

Com o advento da Reforma Protestante e o retomo às Escrituras Sagradas, os líderes reformadores desencorajaram essa prática daninha no seio da igreja, e os liberais relegaram os anjos ao domínio da fantasia religiosa e poética. Entretanto, os verdadeiros crentes sabem qual o real papel desses seres espirituais. O escritor aos hebreus deixa bastante claro, como a luz do meio-dia, que “todos eles são espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação” (Hb 1.14). Hebreus 2.5,9,16-18 e 3.1-2, e tantos outros textos, mostram que nossa fidelidade cristã deve ser inteiramente a Jesus, que se identificou conosco em carne e sangue, pagando o preço da nossa redenção.

Jesus afirmou que só o Espírito Santo é o enviado do Pai como “outro Consolador”. É o Espírito Santo que testifica de Jesus para a Igreja (Jo 14.16 -17; 15.26; 16.13-14).

Alguns homens enfatuados no seu saber carnal acreditam que têm poder devido à proximidade de seus “anjos guardiães”. Em alguns movimentos modernos da igreja cristã evangélica, têm surgido homens que acreditam que a iluminação ou revelação espiritual que obtiveram é mediada por anjos. Desse modo, procuram entrar em contato com o ser divino tendo como mediadores outros seres espirituais (aos quais denominam anjos).

Foi por esse e outros motivos que Paulo escreveu que considerava “anátema” dar crédito a qualquer acréscimo posterior feito ao evangelho canônico, ainda que isso viesse da parte de um anjo do céu (Gl1.6-9). Isso porque o apóstolo bem conhecia os ardis do maligno e o poder das obras da carne atuando mediante uma mente natural e não submetida ao senhorio de Cristo.

Convém, pois, estar atento para não cair na apostasia do culto aos anjos.

 

  

Autor: Pr. José Antônio dos Santos

 

Postado por: Pb. Ademilson Braga

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